Thursday, October 15, 2009

Quando eu tinha 9 anos...

No dia que meu pai morreu eu estava assistindo a uma aula de catecismo. Tinha oito anos de idade e morava em Santa Rita do Sapucai, uma pequena cidade na região sul de Minas Gerais. Uma moça que trabalhava no local apareceu na minha sala acompanhada de uma menina vizinha minha e pediu para acompanhar-la sem dizer qualquer coisa alem de que me chamavam da minha casa. Eu tambem nao perguntei porque estavamos saindo. Elas caminharam comigo ate a entrada da minha casa, que ficava talvez a menos de 100 metros do local.

Percebi que alguma coisa estava fora do normal antes mesmo de entrar. Da rua eu já avistava vários carros estacionados em frente a casa. Esses carros, alguns grandes e escuros como veiculos officiais, entregavam uma presença sinistra; alguma coisa importante e extraordinária se passava ali. Fui recebido primeiro por minha tia Ita - que por uma conveniencia do destino nos visitava - que chorando e com grande economia de palavras dizia que meu pai havia falecido. Fui levado para o quarto onde meus outros quarto irmãos maiores de idade do que eu mas menores de idade no estatuto, estavam deitados, cada um em sua respectiva cama e todos chorando. Eu me juntei a eles na cama, mas não no choro. Nao me lembro de quem cuidava de meu irmão mais novo que tinha menos de um ano de idade. Minha mãe estava em outro comodo, talvez em estado de choque, sendo amparada por nao sei quem e nem por quantos daquelas adultos que eu nao lembrava de ter havido conhecido. Ela começava ali tres dias de choro quase ininterrupto.

Meu pai havia saido com sua Vemaguete azul clara naquela manha de sábado a trabalho. Ele iria a uma cidade vizinha, Varginha, avaliar a abertura de uma sucursal do Banco Nacional onde trabalhava como gerente geral.

Ele viajava com um funcionario do banco. Quando passavam por um trevo rodoviário em Pouso Alegre foram atingidos pelo lado por uma caminhonete velha e mal mantida, daquelas que trazem produtos da roça e possuem a caçamba ladeada por uma cerca baixa de madeira. A Vemaguete capotou e meu pai teve morte instantanea provocada por a uma pancada na tempora. O carona sobreviveu.

Fomos no mesmo dia, eu e toda a familia, levados ao necroterio da cidade vizinha onde meu pai ja estava preparado para ser velado, deitado em um caixão com a pele limpa e aquele ar sereno de quem se encontrava no meio do mais tranquilo dos sonos.

Olhei meu pai naquela casinha sem janelas impregnada com cheiro de cravos onde o unico elemento decorativo era um caixao no centro e sai para me sentar no meio fio da estreita calçada que circulava a estrutura. Até então não só năo havia derramado uma só lagrima como tambem nao havia dito uma palavra. Uma conclusão fácil, rapida e insuficientemente examinada diria que era um comportamento normal para uma criança da minha idade que nao comprendia a dimensão da tragédia; e talvez fosse. Eu acredito porem que alem da negação ao fato eu estava tentando não colaborar com a tristeza geral. Mantendo me não envolvido, eu estaria deixando espaco naquela atmosfera triste e confusa para ser ocupado por outros.

O enterro aconteceu dois dias depois em Carmo, cidade no interior do estado do Rio onde moravam minha avó e alguns menbros da familia extensa dos meus pais. A procissao do enterro foi acompanha por muita gente que meus poucos oito anos de vida impedia de haver conhecido; e mais uma vez eu nao me fiz presente.

Em Carmo fiquei por algumas semanas ate que minha măe, de volta a Santa Rita com meus irmaos, tentasse restabelecer alguma ordem na casa. Ela foi bem sucedida de certo modo, e considerando as circunstancias, suportou a pressão de maneira corajosa e resoluta.

Quanto a mim, continuei sem entender bem o significado de tudo que acontecia. Nada parecia me afetar, A ocorrencia da morte do meu pai ficou assim difusa entre tantos outros mistérios na vida de um menino de oito anos.

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